Por Tom Miles e Stephanie Nebehay
GENEBRA (Reuters) - O Zika vírus, possivelmente ligado a casos de má-formação cerebral de milhares de bebês no Brasil, está se espalhando "de forma explosiva" e pode afetar até 4 milhões de pessoas nas Américas, incluindo 1,5 milhão no território brasileiro, informou a Organização Mundial de Saúde (OMS) nesta quinta-feira.
A diretora-geral da OMS, Margaret Chan, disse aos membros do conselho executivo da entidade que a disseminação da doença, que é transmitida pelo mosquito Aedes aegypti, passou de uma ameaça moderada para uma questão de proporções alarmantes.
"No ano passado, o vírus foi detectado nas Américas, onde agora está se espalhando de forma explosiva. Até o momento, foram relatados casos em 23 países e territórios na região", disse, prometendo que a OMS irá agir rapidamente.
A agência de saúde da Organização das Nações Unidas (ONU) foi criticada no ano passado por reagir lentamente à epidemia de Ebola na África Ocidental, que matou mais de 10 mil pessoas, e prometeu reduzir seu tempo de reação.
"Não vamos esperar que a ciência nos diga que há uma ligação (com a má-formação cerebral). Precisamos tomar providências agora", disse.
Não existe vacina ou tratamento para o Zika, que é da mesma família da dengue e da febre chikungunya e causa febre moderada, erupção cutânea e vermelhidão nos olhos. Cerca de 80 por cento das pessoas infectadas não exibem sintomas.
Chan disse que a entidade irá reunir seu comitê de emergência na segunda-feira para ajudar a determinar o nível de reação internacional ao vírus.
"O nível de alarme é extremamente alto", afirmou Chan aos membros do conselho executivo da OMS durante reunião em Genebra.
O Ministério da Saúde do Brasil informou em novembro que o Zika estava relacionado a casos de microcefalia, uma má-formação do cérebro.
À medida que o vírus se espalha para além do Brasil, outros países nas Américas podem ter casos de microcefalia relacionada ao Zika, disse nesta quinta-feira o chefe regional da OMS para as Américas à Reuters.
O Brasil registrou oficialmente 3.893 casos suspeitos de microcefalia, afirmou a OMS na semana passada, mais de 30 vezes a mais do que em qualquer ano desde 2010.
A diretora da OMS disse que, embora ainda não se tenha estabelecido uma relação causal entre o Zika vírus e má-formação congênita, existe uma "forte suspeita".
"As possíveis ligações, que só levantaram suspeita recentemente, rapidamente mudaram o perfil de risco do Zika de leve ameaça para um de proporções alarmantes", disse.
O especialista em saúde e direito Lawrence Gostin, da Universidade Georgetown, que havia cobrado ação da OMS, elogiou a decisão de Chan de convocar um encontro de especialistas, dizendo em comunicado que foi "um primeiro passo fundamental no reconhecimento da seriedade de uma epidemia emergente".
Anthony Fauci, membro do Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos, disse que agências federais de saúde norte-americanas estão monitorando o Zika, mas não antecipa um grande surto no país.
"Veremos pequenos mini-surtos na Flórida ou Texas que podem ser bem controlados com controles do mosquito. Espero que não vejamos nada pior do que isto", disse à CBS News em entrevista.
Perguntado sobre os riscos para os que planejam viajar ao Brasil para a Olimpíada do Rio de Janeiro em agosto, Fauci disse que controlar os mosquitos de forma agressiva "é provavelmente a melhor medida".
O diretor-geral assistente da OMS, Bruce Aylward, disse que parte da razão da convocação do encontro de segunda-feira é garantir que os Estados não imponham quaisquer restrições inapropriadas de comércio ou restrições a países afetados.